Quiririm é, desde 1925, um distrito da cidade de Taubaté, hoje em dia bastante conhecido não apenas entre os habitantes da própria cidade, como de todo o Vale do Paraíba. Muito dessa popularidade vem do fato de ter se tornado nas últimas décadas um centro gastronômico, reunindo restaurantes de qualidade em uma pequena área.
Entretanto, não só a gastronomia conta como atrativo e atrai o público visitante. Com sua arquitetura do início do século XX ainda relativamente conservada e sua posição estratégica sobre uma elevação, da qual se pode ver a Serra da Mantiqueira, o lugarejo realmente tem algo de pitoresco. A vista das várzeas, onde até recentemente predominava a lavoura de arroz, assemelha;se bastante à paisagem rural do Vale do Pó, na Itália, do qual saíram, aliás, muitas das famílias que ainda hoje residem no distrito.

Ainda que nas últimas décadas a distância até Taubaté tenha se tornado cada vez menor, Quiririm ainda pode ser visto e vivenciado como um lugar com características e vida próprias. Um lugar pacato, com comércio local pequeno, mas com uma população local ligada entre si por laços de sangue e de amizade e com uma história própria que lhe dá charme e autenticidade.
Segundo o relato de um sociólogo paulista que passou pelo local no início da década de oitenta, naquele momento o local era, dos cinco núcleos coloniais que haviam sido fundados no Vale do Paraíba nas últimas décadas do século XIX, aquele que mais preservava a cultura trazida pelos imigrantes e cuja população ainda era composta majoritariamente pelos descendentes daqueles.

Desde então passaram-se quarenta e cinco anos e neste período algumas mudanças ocorreram, aliás, não apenas em Quiririm. Se a composição populacional local mudou e aumentou consideravelmente desde então, por outro lado, os descendentes dos primeiros imigrantes ainda lutam para preservar algumas de suas tradições e até criaram algumas novas nos últimos anos.
Entre as tradições conservadas estão a culinária festiva e as reuniões de famílias em torno da mesa coberta pelos pratos tradicionais na Páscoa, no Natal e no Ano-Novo, bem como o dia de Santa Lucia – 13 de dezembro – que hoje é comemorado publicamente e não somente dentro das famílias e o amor pelo Esporte Clube Quiririm e o jogo de futebol entre solteiros e casados, disputado até há alguns anos nos dias vinte e cinco de dezembro e primeiro de janeiro. Aqui não pode deixar de ser mencionado também que algumas famílias ainda vivem da agricultura.

Entre as novas tradições estão a festa comemorativa da imigração e a dança tradicional da tarantella, com a consequente criação de vários grupos folclóricos, os quais se apresentam hoje em dia não apenas em Quiririm.
Além disso, hoje a localidade conta com um museu da imigração instalado no Sobradão dos Indiani, que foi uma reivindicação de alguns moradores reunidos em torno da Società 30 di Aprile e cujo tombamento e restauração pelo poder municipal foi apoiado inclusive por docentes da Universidade de Taubaté. O local conta também com duas associações culturais voltadas para fins diversos: a Società 30 di Aprile, que se dedica à preservação da cultura material e imaterial local e a Associação Cultural, que organiza a festa comemorativa da imigração e atualmente também outros eventos.

Em parte como consequência dos desenvolvimentos relatados, mas não apenas por eles, o local passa por um processo de rápido desenvolvimento urbano e está perdendo aos poucos seu caráter de lugar pequeno, de paese italiano. Apesar do engajamento das associações locais, corre o risco hoje de que seu patrimônio histórico e arquitetônico venha a ser destruído pela especulação imobiliária.
Nos últimos anos, após discussões com a comunidade, a Prefeitura Municipal de Taubaté financiou um projeto de restauração de seu centro histórico e incluiu a localidade em seu Plano Diretor de Turismo. Recentemente, atendendo a reivindicações da Società 30 di Aprile instalou placas explicativas em vários pontos turísticos do local, assim como placas de trânsito indicando sua localização.
Se por um lado, o poder público vai tomando consciência do valor cultural do distrito e de sua potencialidade como ponto turístico da cidade, por outro, é ele mesmo, que muitas vezes por negligência ou incompetência, permite que se destrua ou até contribui para a destruição do patrimônio arquitetônico local.
